quarta-feira, 24 de março de 2010

O chá...



Há quase um mês nos chocamos com a morte do cartunista Glauco Villas Boas, ícone no cenário brasileiro, que ilustrou por diversas vezes elementos que compõem nossa sociedade. A investigação do assassinato brutal que matou o cartunista e o filho Raoni, de 25 anos, revelou detalhes surpreendentes de sua vida particular. Adepto da seita religiosa Santo Daime, Glauco era fundador da Igreja Céu de Maria, instalada em sua propriedade e composta por mais de 11000 adeptos. Dentre eles, ninguém mais que o próprio Cadu, seu carrasco.
O Santo Daime, originalmente vindo do Acre, possui dezenas de ramificações mas todas preservam os mesmos preceitos: beberagem, entonação de cânticos sagrados e o objetivo principal de “atingir autoconhecimento e consciência cósmica”. A ingestão do chá de Ayahuasca se da durante as sessões e, devido a presença da substancia alucinógena chamada Dimetiltriptamina (DMT), seus efeitos duram até quatro horas. Essa substancia, encontrada nas folhas da erva-rainha, é proibida pela ONU, mas a planta em si não é. Seu uso pode ser feito legalmente desde que seja para uso medicinal ou religioso.
Os adeptos dizem que não há mal algum e que ao contrario do que dizem, seus efeitos são benéficos a saúde. Até onde eu sei, qualquer coisa que altere o estado de consciência É DROGA. A mistura com outros entorpecentes ou ainda o uso por pessoas com distúrbios neurológicos pré-existentes, como parece ser o caso do glorioso (ele acha que é a reencarnação de Jesus) Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, provoca reações pra lá de explosiva na cuca do individuo. Segundo consta, o garoto vinha sofrendo de distúrbios psíquicos desde o inicio de seu tratamento na igreja, mas, foram ignorados tanto por Glauco quanto pela própria família que evitou tomar uma medida drástica, deixando o problema se arrastar por três anos e chegar ao fim trágico que chegou. A meu ver, o acontecido não tem um culpado especifico. O rapaz já era meio fraco da cabeça. A família, que morava longe dele, pode não ter enxergado que era no filho e não as sessões que estava o problema. Glauco, talvez por identificar-se com o histórico de envolvimento com drogas do rapaz, e/ou ainda por desconhecer a herança genética que ele carregava, não se deu conta do que estava por vir. A culpa também não é do chá. Eu diria que as diferentes interpretações da realidade levaram a esse resultado. A bebida tem apenas a função de tornar o usuário mais suscetível aos ensinamentos do mestre. Exatamente igual aos evangélicos por exemplo. Estes ao invés de utilizarem-se bebidas e etc. preferem gritar bastante no ouvido dos fieis até que suas doutrinas se tornem verdade absoluta. Diversas reportagens levantaram a questão sobre a liberação do DMT ou não. Acontece que o ocorrido se deveu a soma de inúmeros fatores determinantes da tragédia. O que está em cheque é o critério das autoridades para decidir sobre a legalidade de uma substancia ou não. Por que o DMT pode e o LSD não? Por que sim a nicotina e não a maconha? Sim ao álcool e não ao chá de beladona? Não se trata de apologia as drogas, tampouco a condenação das premissas dessas religiões, de forma alguma. Mas as coisas chegaram a um ponto, que não da mais para engolir explicações superficiais e pouco convincentes como as que temos ouvido até hoje.

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